1 de dez. de 2010

O escultor do acaso

Kléber iniciou suas atividades como escultor, numa brincadeira que parece ter sido aprovada por todos – ou pelo menos,por uma pequena parcela que teve acesso as suas obras

Kléber da Silva exerce a função de pedreiro como forma de sobrevivência. Pessoa simples. Começou a ter contato com a madeira de uma forma mais descontraída e quase por acaso. Dizem que o acaso não existe, mas com o promissor escultor, parece ter sido diferente.

Tudo começou, quando este primitivista observou um enorme buraco que impedia aos transeuntes e motorista passarem pela via pública.  A situação da rua Antonieta Fonseca, no bairro Santos Dummont; nas proximidades do aeroporto de Divinópolis era bastante crítica. O que antes foi uma estrada de chão e com muitos buracos transformou-se em via pública de fato e de direito. Tudo isso não teria acontecido, se não fosse a intervenção desse humilde escultor que ao perceber a insatisfação de todos com a precariedade de acesso ao bairro e suas residências; começou a depositar galhas de árvores para tapar buracos que predominavam no local, há mais de 02 anos. Como ele mesmo gosta de pontuar:
[...] eu punha gaia de árvore mas com o tempo, ela ia saindo e os carros, pessoas e bicicletas passavam perto  e quase caiam. Em algumas situações, eu até ajudei a tirar o carro do buraco. Quando foi um dia, eu podei um pé de abacate  e nele havia um tronco grande. Então, eu peguei e pôs ele no lugar do buraco pra os carros não ter perigo de cair. Também serviu para alertar mais a população. Foi onde surgiu a idéia de se fazer o primeiro boneco; o Ameba. Amarrei um pano em cima, como se fosse a sua cabeça e ainda coloquei um óculos que tirei do painel de uma moto. Com bolinhas de plástico, fiz os olhos. Para o povo não existiu coisa melhor (Kleber Silva, Out 2010).
Para o artista, aquela ação espontânea não caracterizaria uma forma de protesto. Algumas pessoas até incrementaram o boneco que chamou muito a atenção de todos, tendo sido alvo de divulgação na mídia local. Com tanto estardalhaço, o departamento (in) competente da Prefeitura Municipal acionou sua equipe e o caso do buraco, existente há mais de dois anos, foi solucionado. "De lá pra cá, peguei o boneco Ameba e arrumei uma namorada para ele. Os dois primeiros bonecos, de uma série que ainda estava pra vir, fizeram o maior sucesso na região", conta Silva.

“Deus está me ensinando”...

Com a mesma filosofia de vida, ou seja; na simplicidade encontrada nos homens de bem, Kléber Silva segue o seu destino e a sua rotina: acorda todo o dia, bem cedo e vai a luta para sua sobrevivência. À tarde, quando chega em casa, já exausto pelo trabalho braçal que desenvolve, o escultor ainda tem tempo e disposição para criar novos bonecos – novos personagens.

Perguntado sobre a forma que dá origem a seus bonecos ele dispara: 
Foi Deus mesmo quem está me ensinando. Não aprendi ainda. Deus está me ensinando e a cada dia que passa a gente aprende mais. A madeira também nos ensina. Agradeço também ao povo que tem aprovado os meus trabalhos, principalmente as crianças. Esse meu ofício me ajuda muito porque é algo que me distrai e ajuda a passar o tempo. Entre muitos que me procuram, já tem pessoas de Nova Serrana, Belo Horizonte, São Paulo, Rio de Janeiro e de outros locais, também (Kleber Silva, Out 2010).
Nas obras executadas recentemente, não se utiliza o prego, são todas confeccionadas em madeira. O artista está na sua primeira mostra e em média, sua obra está orçada entre 800,00 e 1.700,00.


A arte - suas formas e formatos
 Uma outra curiosidade é que a maioria de seus personagens, bonecos entalhados em madeira, são elementos masculinos, o que reverte à figura do toten – aquele que predomina, figura do pai presente nas relações: nem sempre conturbadas das pessoas com as pessoas.

As primeiras madeiras utilizadas nas obras de Kléber Silva nem sempre foram de lei. Um pé de pequi teria sido utilizado nas suas primeiras experiências. Hoje, com maior conhecimento de mercado, Silva utiliza-se da sucupira e do pau ferro – madeiras mais apropriadas para entalhes em esculturas.

Com apenas um formão, um serrote e um estilete, ele transforma a madeira. Na sala improvisada de sua casa, ele fez seu atelier, sem nenhuma máquina, tudo manual. Silva dá vida a peças inteiras e os tornam figuras próximas a nossa realidade. São bonecos exóticos que nos lembra em muito a cultura dos astecas, incas e mayas.
[Foto de Fernando Camillo]
                                                Para ver outras imagens clique AQUI

0 comentários:

Postar um comentário