4 de fev. de 2011

O guardião da literatura de vanguarda

                                                       
Márcio Almeida é um dos ícones da literatura brasileira. Participou de subseqüentes movimentos literários existentes por todo Brasil. No período de maior efervescência literária em Divinópolis, Márcio Almeida participou ativamente, na década de 60, do Movimento Agora e a da realização das Semanas de Arte. O escritor esteve recentemente em Divinópolis para compartilhar da 3ª Maratona Barkaça, onde proferiu a palestra: Guerrilhas Literárias em Minas - um século de resistência através da literatura.

Para quem pôde estar presente á palestra, as palavras emitidas pelo professor Almeida nos revertem ao que de mais precioso existe em termos de literatura produzida no último século. Nos dá a noção exata e cronológica de autores consagrados e independentes que marcaram época com seus sonetos, versos em prosa, grupos literários e a essência da poesia, dita maldita pelo seu conteúdo contestador.

[...]Venho à cidade de Divinópolis para participar de um evento cultural que já acontece desde o início da década de 60, quando havia por aqui, as Semanas de Arte e logo em seguida, o Movimento Agora - que tinha entre outros líderes: Lázaro Barreto, Fernando Teixeira, Sebastião Benfica Milagres, Osvaldo André de Mello, Waldir Caetano, Mauro Eustáquio, Maria Cândida; entre outros tantos. Eles sim agregavam aqui, regionalmente o que se fazia de mais interessante no estado - reunindo o pessoal de Vix e da Geração Frente de Oliveira, Estaca de Divinópolis, Lunapo de Pirapora, Pitix Vereda de Belo Horizonte, além de todos os movimentos recém formados na antiga FAFICH, no bairro Santo Antônio que disseminaram o que em Minas tem como um dos principais minérios; a literatura.
( Márcio Almeida - professor, escritor e poeta).

[...] As Revistas: Psiu, Protótipo e Enéditos, mais no mínimo uma dúzia de publicações; fizeram com que Minas fosse uma referência nacional, mundial - a partir da aglutinação que fez o Suplemento Literário, em Minas Gerais, na década de 60 - com a editoração do Murilo Rubião, pai do Realismo Fantástico. Autores como Afonso Ávilla - precursor modernista no estado trouxe a Minas Gerais o Grupo Concreto de São Paulo: os irmãos - Aroldo e Augusto de Campos e Décio Peguininattari  para uma exposição na Pampulha; antes dos anos 60. Fábio Lucas, Rui Mourão, Laís Correa de Araújo - esteios, alicerce que consolidam o trabalho que desenvolvemos em Minas Gerais á partir, sobretudo do tema que foi colocado durante a realização da 3ª Maratona Barkaça: Guirrilhas literárias - um século de resistência, através da literatura. ( Márcio Almeida - professor, escritor e poeta).

Participação de Divinópolis no processo
           
[...] A participação de Divinópolis se deve a partir de um conhecimento, da adesão sensível de prefeitos como Aristides Salgado e de professores emergentes, do início da antiga FAFICH; hoje FUNED, como: Irene Amaral, Adércio Simões Franco, Gilson Soares, Frei Leonardo; pessoas que ampararam esse movimento, juntamente com outros como: Sebastião Milagres e Fernando Teixeira que consolidaram esse trabalho e que permitiram oportunamente, Divinópolis vir a ter uma das maiores poetas do Brasil - que é sem dúvida, Adélia Prado. Permitiu também que Divinópolis viesse a ter um dos maiores artistas do mundo - o escultor Geraldo Teles de Oliveira - GTO. Outros grandes valores, como: Waldir Caetano na pintura e no desenho, Osvaldo André de Mello, na poesia, Lázaro Barreto, na ficção e na história. ( Márcio Almeida - professor, escritor e poeta).


[..] Então, esta palestra que proferi na 3ª Maratona Barkaça se reveste desse significado. Tudo para mostrar que Divinópolis teve nos anos 60, como as cidades aqui citadas: Itapecerica, Oliveira, Montes Claros, Guachupé, Belo Horizonte, Juiz de Fora - todas representam essa efervescência literária cultural que permitiram fazer uma iniciativa concreta; uma vez que os órgãos oficiais se negam a dar apoio completo. Tenho ouvido, a muito tempo de ex-prefeitos, ex-secretários de cultura de Divinópolis; muito em função de uma omissão. Muito mais do que de um respaldo que houve nos anos 60 e 70 e depois houve um interregno que a gente já falou e que não comprometeu a cultura divinopolitana, mas, diluiu; a pulverizou - num processo que se identifica hoje, com o que mais existe no país: a mesmice, o besteirol, a repetição, o protecionismo de determinados segmentos que são de interesse oficial.Divinópolis é hoje um pólo cultural que se deve em muito ao que se teve nos anos 60, 70”adverte o escritor saudosista.( Márcio Almeida - professor, escritor e poeta).

Movimento Barkaça surge após longo interregno

E o professor Márcio Almeida faz questão de dar ênfase a um período meio nublado que Divinópolis passou.

[..] Inúmeras iniciativas culturais foram esquecidas no tempo. O poder público sucumbiu ao que seria seu papel e após longo interregno, que acredito ter sido de duas a três décadas, o Movimento Barkaça veio trazer de volta a irreverência. Barkaça é uma política cultural contra o kit. Contra, também a mesmice e o besterol. O Barkaça está cada vez mais reconhecido no país pela sua ousadia. ( Márcio Almeida - professor, escritor e poeta).

[...] Pela sua forma revolucionária de fazer arte; sobretudo literatura, de modo muito especial, a poesia. Eles começaram aqui em Divinópolis com o Carlos Lopes, fazendo um trabalho de resistência, há pouco mais de dois anos. ( Márcio Almeida - professor, escritor e poeta).

 [...]Esse trabalho prossegue e hoje, de uma forma exemplar, há de ser reconhecido não apenas pela academia, mas também pela própria mídia nacional que está de alguma forma receptiva e proativa a esse tipo de movimento. Tudo que se faz por aqui é através do Barkaça. ( Márcio Almeida - professor, escritor e poeta).

Barkaça - irreverentes que praticam a carvanalização

[...] O Barkaça significa a irreverência. Acontecimento anteacadêmico. O que não se faz em função do que se repete. Do ousar enfrentar o starbrich cultural. A turma do Barkaça além de jovens é ousada. Trazem no sangue e na mente uma criatividade capaz de afrontar a mesmisse. Capaz, também de afrontar o mercado editorial, instalado hoje no país, que está cada vez mais se fechando em torno de ícones fabricados; ou seriam pré-fabricados? Tudo pela Academia. Porque a Academia não dá chance às pessoas: jovens, ousados, irreverentes e que praticam a carnavalização ,vindo do Bakunin que se punha com seus próprios valores. Falo isso porque venho de geração que dessacralizou status corpore  - quebrou o cristal do que havia de mais estabelecido. Isso faz com que se cresça ou então, desapareça desse mercado. Um mercado de muita concorrência; às vezes desleal. É um mercado de muita vaidade. É um mercado que somente através do talento, da criatividade é que o(a) autor(a) irá se impor e vencer pela criatividade. ( Márcio Almeida - professor, escritor e poeta).


[...] Sobre o Barkaça, fazem desde a poesia marginal, a poesia concreta, o poema processo, o poema visual, o poema digital. O Barkaça então, é uma simbiose, é uma síntese, é um paydeuma que se estabelece em Divinópolis em função de uma garotada que está arrepiando os status corporedas. Academias de Letras. Outras academias inclusive não têm referência nem para se manterem; no mesmo nível em que se faz vanguardas ou revoluções no país.

[...] O Barkaça tem esse significado de convergir experiências, agregar valores, reunir experiências díspares (literatura, poesia, artes plásticas, experimentação digital). É o caso da Carol, do Dioli e do Mingual que numa cidade provinciana; no caso, Divinópolis, se expandem mundo e expõe uma criatividade que não pode ser negada, pela academia. Então, essa Academia começa na FUNED com a iniciação ao Curso de Letras, que precisa levar esses meninos lá pra dentro, para que de fato possam respaldar a teoria literária que se vai estudar. Hoje não há mais interesse em estudar Machado de Assis. Machado de Assis é um saco. È uma doença, é um câncer. Tem dois séculos que só se fala em Machado de Assis. Hoje precisa-se conhecer: Adélia Prado, Lázaro Barreto, Osvaldo André de Melo, Carlos Lopes, Dioli, Karol Penido, Juca, Mingual - são valores que estão incomodando a cidade no bom sentido, com criatividade, não são pessoas estandartizadas, prontas e dentro de um sistema. Homogêneas. O heterônio neles é que causa o estranhamento e o estranhamento é o que faz a surpresa e enriquece, hoje a literatura. ( Márcio Almeida - professor, escritor e poeta).


[..] São esses valores que a academia passou durante 03 ou 04 décadas, que precisam ser retomados, mas num nível crítico. Professores de Teoria Literária, de Literatura precisam fazer esta retomada de valores; afim de que os valores que hoje existam, possam ser reconhecidos. Caso contrário, eles vão cair num ostracismo muito grande e sem chance de se imporem, não no mercado editorial, mas junto ao público leitor. Em síntese é o que justifica ser hoje, o Barkaça. É isso que justifica a permanência de Divinópolis no contexto cultural do Brasil. ( Márcio Almeida - professor, escritor e poeta).

Márcio Almeida foi questionado sobre a possibilidade do Grupo Barkaça ser rotulado de anarquista. O autor de vasta bibliografia contra-argumenta:

[...] O fato do Barkaça ser rotulado de anarquista não modifica nenhuma intenção, mesmo porque são somente rótulos. São apenas conceitos desgastados numa sociedade caduca que não se justifica. E se forem? Eles não são marginais. E se forem? Que diferença faz isso hoje, dentro de um contexto multiculturalista - onde você comunga de valore de anos, de Sabará ou pós moderno na linha dos franceses ou pós moderno numa linha bahiana (Aris Salomão, Antônio Rizzieri.Ou quem sabe, numa linha paranaense (Alice Ruiz, Paulo Lemink, Jussara Salazar. Seriam eles, anarquistas? Ou marginais por fazerem diferentes?  Numa época em que se cobra a diferença. O que é a diferença? O que justifica a diferença? É o fazer bem feito ou a criatividade em função do inusitado? É preciso ficar atento a essas sutilizas porque quando se diz que uma pessoa é anarquista, no Brasil, esse sentido é pejorativo. Não acrescenta em nada, Se é uma Zélia Gattai dizendo: Sou anarquista, graças a Deus, é interessante ela afirmar isso porque ela faz parte da mídia. Ela foi mulher de um Jorge Amado. Amanhã se a Carol chegar num meio de comunicação que é anarquista, ela poderá ser ezecrada por uma coisa que ela não é. Ela é criativa - uma pessoa genial. ( Márcio Almeida - professor, escritor e poeta).

            ns, ousadas, irreverente e que praticam a carvanalizaçouve um interros, Guachup






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