8 de jan. de 2011

O aprendiz da cultura andina

Ricardo Villanueva (28) é natural de Santiago, Chile. Ele se considera um mestiço andino - iniciou suas atividades na tradição andina a partir dos 16 anos.  O também capoeirista conheceu a fraternidade da etnia
Yamara ainda muito jovem.
     
A identificação de Ricardo Villanueva com essa cultura foi quase que imediata. Começou então a freqüentar a fraternidade, aprendendo as danças e toda a filosofia andina. Dentro desse aprendizado foi informado que existia plantas de poder e determinadas cerimônias.
Villanueva viajou pelo Equador onde participou do evento: Caminho Vermelho, em busca da visão - hambleya the champ - uma iniciação ao Ynip ou Cerimônia do Tamascal.

Depois de quatro anos, seguindo os ensinamentos, recebe a autorização para poder ministrar o Ynip. Sedento de beber água de outras fontes, Villanueva vai para o Peru e para o Equador para aprender com outras pessoas com maior experiência. Ao regressar ao Chile, seu país de origem, voltou a trabalhar com a cerimônia Temascal e também outras cerimônias praticadas em sua cultura.

Sem preocupar com muita divulgação e sem alardes, o jovem Ricardo segue com seus afazeres. Villanueva, o aprendiz da cultura andina, estive dividindo seus conhecimentos na pequena cidade de Santa Luzia (MG), no ponto de Santo Daime, conhecido como Flor do Céu.
 Morando no Brasil há um ano e nove meses, passou também por Lagoa Santa onde em um sítio, desenvolvia as técnicas aprendidas a partir de experiências adquiridas com a cultura de seus ancestrais.

Temascal - uma das sete cerimônias sagradas

        O Ynip, ou Cerimônia do Tamascal, como é mais conhecido, integra as sete cerimônias sagradas que trabalha a desintoxicação; dependência química.
        Ricardo Villanueva faz questão de enfatizar que ele realiza um trabalho xamânico tradicional e não trabalhos neoxamânicos, estilo newtech - mais adaptado. Para a realização do trabalho tradicional do Ynip é preciso entender um pouco do mito e das estórias que se contam.


Desejo X espírito sagrado


[...] Há muito tempo, chegou a mulher búfalo branco que apareceu para dois guerreiros que esperavam para surpreender suas caças. Um guerreiro olhou pra ela como mulher - com desejo. A mulher búfalo branco envolveu este guerreiro com uma fumaça e só restou, os ossos.
O outro guerreiro, que viu a mulher búfalo branco como espírito sagrado; para ele, ela fez uma revelação. Recomendou voltar e dizer tudo a suas lideranças que em determinado dia, voltaria e entregaria um conhecimento nas planícies de Lakota), nos Estados Unidos.
        Na reunião a mulher búfalo branco - espírito sagrado entregou as cerimônias sagradas. Dentre as quais, está o Temascal. No ritual que se pratica não é permitido uso de qualquer tipo de droga, nem bebida alcoólica e recomenda-se uma alimentação mais leve.
(Ricardo Villanueva)

[...] A partir dos anos 90 as lideranças mais jovens, tomaram esta atitude; - de fechar o uso para todo tipo de drogas, bebidas e de vícios durante a cerimônia, pois a forma mais fácil de acabar com a etnia - uma cultura ancestral é dando de presente, cachaça. Acaba rápido com: a memória, a cerimônia tradicional, a espiritualidade e a saúde. (Ricardo Villanueva)

[...] O índio está mais acostumado a beber penhonte e yahoásca - o corpo está mais adaptado. Lá no Estados Unidos eles consomem o penhote; já a yahoásca é daqui do Amazonas. (Ricardo Villanueva)


A língua das indumentária

Ricardo Villanueva ao ser questionado sobre a forma como se dá o ritual, conhecido como Cerimônia Tamascal se atém a dar poucas informações por se tratar de algo sagrado na sua cultura.E dá exemplos:
[...] Quando a gente se inicia é chamada de uma egregora - uma falange espiritual. O que usamos em nossas cabeças - indumentárias andinas que tem algumas coisas penduradas, siginifica: quem está usando é solteiro. Sem nada pendurado, casado. Cocar, touca, faixa, identificam o povo com suas cores e formas: Kechoo, Ymará. Outros.  Uma espécie de código. No ritual o uso da pena, semente, simboliza proteção ou para honrar o espírito daquele pássaro ou daquela árvore.  
  (Ricardo Villanueva)

 [...] A indumentária utilizada traz uma fala, uma forma de se comunicar que irá definir a qual etnia pertence determinado grupo, ou não. São códigos utilizados nas vestes tradicionais. Assim se define e caminha a cultura quase dizimada de um povo que ainda luta para ver preservada as tradições do seu povo. (Ricardo Villanueva)

Respeito aos animais- espírito dos pássaros

Na cultura andina, nos rituais que se faz para honrar o espírito do pássaro ou da árvore, utiliza-se o couro do búfalo como forma de simbolizar a presença do animal - puro simbolismo.

[...[ Uma cerimônia é realizada onde a dança atraí a caça – espírito; crenças indígenas.  DEUS - o grande Espírito deixou os bichos na terra pra acompanhar os homens; caso precisa-se sustentar. O homem tem a obrigação de cuidar. Não tirar mais do que precisa para sobreviver. Essa é uma doutrina dos povos andinos; pelos menos foi, algum dia. (Ricardo Villanueva)

Índios autênticos - autênticos índios
[...] Creio não existir mais. Só na floresta, uma ou duas tribos. Naquele tempo era assim: tinha um sonho e através da intuição eles iam caçando. O couro do búfalo é utilizado, tradicionalmente para cobrir o Ynip - estrutura formada de treze varas que simbolizam: portas e direções. As quatro portas diagonais, representam os quatro ventos; quatro anéis que apertam para vedar e que representam as quatro idades: neném, criança, adulto e ancião. São sete cerimônias; entre as quais está o Ynip.(Ricardo Villanueva)
Ynip ou Cerimônia do Tamascal - um ritual simples
[...] A cultura andina trabalha muito, a questão da numerologia. São sete cerimônias, quatro direções, coração do céu, o coração da terra e o coração do homem. Até na quantidade de pedras que se utiliza. Chegam até o número treze que inclusive, a Maçonaria trabalha.(Ricardo Villanueva)
[...] As melhores são as vulcânicas; dificilmente encontradas por aqui. Em Santa Luzia foi encontrada uma pedra muito boa - na água corrente do rio que passa ali perto. A pedra de granito dá certo e é facilmente encontrada. A pedra tem que ser resistente, sólida para aquentar as altas temperaturas.(Ricardo Villanueva)

[...[ O Ynip, ou Cerimônia do Tamascal não é uma liturgia complexa que exija muitos procedimentos para se realizar. É um ritual simples que trabalha a força: da terra, da água, do vento e do fogo – tudo junto no vapor. (Ricardo Villanueva)
[...] O Ynip é uma tenda que se observarmos no nível da terra, irá nos parecer uma mulher grávida - uma barriga da qual tem uma só entrada, por onde se entra e se saí. À frente, bem na entrada da tenda, tem a presença do pai, simbolizado através do fogo. Então no momento em que estão esquentando as pedras; nesse momento, acontece uma relação - entre o pai, fogo; representado pelo sol e a mãe terra. As pedras representam a figura dos espermas; proporcionando uma fecundação. (Ricardo Villanueva)

Formação de grupos
Grupos pequenos de cinco a seis pessoas são ideais para serem trabalhados.
O chileno Ricardo Villanueva já esteve à frente de trabalhos com a presença de mais de sessenta pessoas, mas prefere grupos menores para esse início.

[...] O Ynip forma uma família e ela pode vir a crescer, aumentando assim, o número de participantes desse grupo. Em alguns casos já vistos, tornou-se comunidade.
[...] A Cerimônia Temascal, um ritual aberto – sempre destinado a família; para todos e juntos. Uma participação inicial, antes da busca da visão: (quatro dias de jejum. Sem comer, sem falar e sem tomar água). Em tribos ancestrais esse ritual sempre acontecia na adolescência para fase adulta, quando passa a conviver com os mais experientes. O rapaz entra no últero da mãe terra para renascer como homem e sobe a montanha para implorar uma visão – para ver a que veio; se vai ser engenheiro, agricultor, homem de medicina... Esse é o uso principal. É o iniciático e tradicional que adapta a vida urbana e se utiliza também como forma de cura.
(Ricardo Villanueva)


Liberar a energia estagnada
[...] O Ynip não é um remédio. Somente o fato de você entrar na tenda, não significa que vai se curar. Ele proporciona o auto-conhecimento, auto-estima, renascimento. No Ynip é trabalhada a causa da anomalia que se apresenta. Muitos tipos de manifestações acontecem e é nesse momento que se proporciona a cura. A Cerimônia do Tamascal leva a pessoa num grau de conexão que libera a energia estagnada e se cura. Para se participar do Ynip ou Cerimônia do Tamascal é preciso passar por uma entrevista para avaliação e a imagem que se pode criar  na mente é similar a uma sauna com a diferença que é sentado na terra. Tem músicas, tambores e a palavra é aberta a quem queira se manifestar. Na egregore, na falange se invoca o guardião e se respeita os processos. (Ricardo Villanueva)

[...] A porta se abre por quatro vezes. A primeira é conhecida como porta da humildade ou do propósito. A segunda é a porta da água ou a porta da vontade. A terceira é a porta do fogo ou do poder, a mais quente, onde realmente se manifesta a cura. E a quarta porta que é a porta da integridade ou a porta do agradecimento. Quatro processos básicos aplicados em ritual com duração mínima de três horas. O tempo gasto irá depender se é uma cerimônia de cura ou se simplesmente é de comemoração – são diferentes os propósitos. A idéia é se promover uma jornada para se conhecer as pessoas participantes. A cerimônia deve ser praticada pelo menos uma vez ao mês – melhor que muitas sessões de massagens e investimentos com terapeutas. Um incentivo a ter mais consciência no dia-a-dia de todos nós. 
(Ricardo Villanueva)
   email: ricardo villanueva -  yachaj2000@yahoo.com.br>

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