18 de ago. de 2011

Permacultura - a prática do bom senso


Ter uma maior conscientização na preservação do planeta, cuidar das pessoas e dividir excedentes - fatores essenciais para quem queira comungar desse novo e importante estilo de vida.
A permacultura representa, acima de tudo, o bom senso. Ter disciplina e bons hábitos



Tudo isso, pode ser visto e praticado no Sítio Tevas - situado a 15 km do centro da paradisíaca cidade histórica, Paraty (RJ) 



                                                    Permacultura - iniciação a um complexo estilo de vida
                                                                                                    

Uma consulta na Internet sobre permacultura nos bastou para revelar que o tripé de sustentação, criados a partir da observação de dois ecologistas australianos, tem por essência: - cuidar das pessoas, cuidar do planeta e dividir os excedentes. Este conceito preliminar foi o suficiente para já reservarmos nossa vaga, no Curso de Permacultura. O convite, recebido e anunciado por e-mail, mais tarde foi transformado em noções básicas sobre teorias e práticas, de um complexo e interessante estilo de vida; denominado - permacultura.

A permacultura ao alcance de todos
           
A chegada em Angra dos Reis (RJ) nos deu novo alento - o de estarmos agora, muito mais próximo do destino: Paraty - Sítio Tevas. Assim seguimos o mapa que cada vez mais nos impulsionava a continuar subindo e agora, embalados pelo som, emitidos por cachoeiras - o que já nos parecia muito alto nos dava indício de estarmos próximo ao céu.

Cerca de uma hora de caminhada; após o ponto final do Coriscao (bairro de Paraty), nos leva ao Sítio Tevas - uma grande propriedade incrustada na Mata Atlântica.
                O local escolhido para a realização do Curso de Permacultura é ideal para as inúmeras vivencias que nos aguardavam. Fim de tarde, hora d’Angelis e finalmente, a chegada ao destino. Bagagens ao chão, todos recebidos pelo anfitrião, Tammer Faddida - um jovem de 28 anos e com tradições israelenses.
Após um jantar de boas vindas, merecido descanso nos chalés reservados aos participantes. (foto chalé)
            Amanhece no Sítio Tevas. Início da jornada e de extensa programação, todos, prontos para o café da manha e para a primeira vivencia marcada para iniciar-se as 7h30.



Variadas frutas, pão integral - recém produzido em forno a lenha e na cozinha comunitária - chás e introdução a permacultura. (foto)





Tamer fala de sua bagagem e de suas inúmeras vivencias  

Tamer Memberg Faddida, (28) é uma pessoa que soma á sua bagagem, inúmeras vivencias e que encontrou no Sítio Tevas, um local ideal para por em prática todo conhecimento absolvido.

Indagado sobre o tema em questão; ele dispara: - “ moramos aqui no Sítio Tevas e são três anos desenvolvendo esse trabalho em equipe. Aplicamos os ensinamentos baseados em permacultura: convivemos com as árvores nativas, com foco no reflorestamento, nos créditos de carbono e outras práticas que não sejam nocivas ao planeta”, desabafa, Tamer.

Na busca de novos horizontes e de mais conhecimento

Faddida estudou na Universidade de Biologia, o que lhe rendeu mais conhecimentos específicos; apesar de não ter concluído o curso. Na busca por novos horizontes, tenta ampliar e aplicar os conhecimentos adquiridos na Biologia; agora, na prática.  Foi então, que Tamer resolveu viver em comunidades alternativas, convivendo com povos indigínas - nativos que lhe passaram conhecimentos milenares.
Integrando um grupo da Universidade do Vale do Itajaí, aprendeu como se utilizar da permacultura no dia-a-dia de povos indígenas.
Tamer participou de vários cursos, sempre buscando técnicas e recursos baseados na sustentabilidade.

Para o anfitrião e guardião dos conhecimentos da introdução da permacultura: - “Esse estilo de vida, desperta uma realidade de transição para uma Era Sustentável - uma Era Verde. Uma vida mais saudável e natural, argumenta o grande defensor da natureza e da sustentabilidade.

Permacultura - a conexão com o meio ambiente, a natureza, o próximo...

Tamer Faddida define permacultura como sendo uma forma de cuidar de nós mesmos. De vermos o nosso organismo como um todo. Tratar os nossos órgãos de maneira holística; de forma a compreender que estamos conectados com o meio ambiente, com a natureza, com o próximo; com tudo” comenta o observador e multiplicador dessa rede.
 “A permacultura representa uma rede. Um organismo já independente. Vem ganhando forma em diferentes partes do mundo; para diferentes povos e isso é interessante. Você pode perceber que a permacultura vem aglutinando povos com diferentes formas de pensar, de ideologias diferenciadas; sempre focando a natureza e o propósito de se praticar a permacultura”, pontua o jovem empreendedor.

Nascido em Israel, Tamer morou e estudou no seu país de origem, onde cursou o ensino fundamental, tendo participado de Seminários promovidos pela Wwoof - uma rede de Fazendas Orgânicas que pratica a permacultura.


Sítio Tevas - importante entreposto da Wwoof
                                                   

                     casal de frances participa de curso e deixa suas impressões digitais


 Para Tamer Faddida,“um dos objetivos do Sítio Tevas, é  de que o espaço alcance uma gestão sustentável e que se torne modelo e referencia de Eco-Vila, adquirindo toda infra-estrutura necessária para acolher grupos e pessoas para receberem informações com maior conteúdo técnico - ações didáticas, com aulas práticas; o que já se faz por aqui”, enfatiza, Tamer.
Existe um projeto para que o Sítio Tevas se torne um local para visitação de escolas com a realização de oficinas para grupos interessados.
Um outro projeto ainda a ser analisado, é a possibilidade do Sítio Tevas ser referencia para cura de  dependentes químicos. Um processo terapêutico que exige acompanhamento de profissionais, é o que se almeja.
“O Sítio Tevas funciona atualmente como uma espécie de laboratório e tem aplicado técnicas em permacultrura de paises com diferentes origens, como: Israel, Uruguai, Argentina, Bolívia, Brasil; entre outras nações. O Sítio Tevas tem sido um entreposto da Wwoof no Brasil e tem recebido grupos de várias nações”, argumenta o também naturalista, Tamer.
Os espaços físicos utilizados para as vivencias em permacultura, no Sítio Tevas, foram todos planejados. Para a aquisição do terreno, o foco foi no que eventualmente, poder-se-ia transformar o local adquirido - propício a atender as demandas na aplicação da permacultura.
Entre as características relevantes estão: possuir floresta nativa com abundantes sementes para o reflorestamento; muita água; terra boa para cultivo de novas espécies; espaço suficiente para a prática da bio-construção .
             Sobre a questão econômica; a aquisição do Sítio Tevas se deu a partir de uma vasta pesquisa de mercado. Outros estados foram sondados para esse mesmo propósito como: Minas Gerais, Bahia, Mato Grosso e Goiás.                


Banheiro seco gera energia alternativa e sustentabilidade


            O banheiro seco no Sítio Tevas surge da necessidade em se criar adubo. O banheiro seco obedece a um ciclo que fornece adubo, minhocas, humos - uma cadeia ecológica baseada no húmus humano.
                O banheiro seco do Sítio Tevas é fruto de um método aprendido em outros Centros de Permacultura e em Eco-Vilas. Os banheiros secos, conhecidos também como bazon são formas encontradas de estarmos aproveitando melhor esse recurso que é desperdiçado e que é a causa de tantos transtornos na sociedade e de danos irreparáveis á natureza; como a questão do esgoto sanitário - pesadelo para os grandes centros urbanos.
                Para Tamer, “o conhecimento e a aproximação com essa técnica de permacultura vem também da necessidade na melhora da qualidade de vida do cidadão por meio de muita pesquisa, de consultas a Internet que forneça informações e dados específicos para a consolidação de projetos”, pontua o experiente jovem Faddida.

Energias alternativas - mais consciência e menos consumo

            A energia solar utilizada para fins de aquecimento de água vem sendo usada por gerações. A energia solar é considerada limpa e encontra-se disponível a todos. A energia solar deve ser aproveitada em qualquer lugar que possa ser aplicada.
No Sítio Tevas, vários métodos são desenvolvidos e que contribuem para baixar o custo operacional de ações desencadeadas na zona rural e na Mata Atlântica. Com essa finalidade, utiliza-se então da energia solar proveniente do aquecimento do sol.
No Sítio Tevas não existe um recurso abundante dessa fonte de energia alternativa. Uma placa alto-voltaica gera energia elétrica de 70 wts com controlador e inversor para uma rede considerada pequena para manutenção e demanda de uma casa (carregar bateria de computador, celular, câmara, luz nos dormitórios e na cozinha comunitária). Em dias nublados caí muito o fornecimento o que não acontece em dias ensolarados.
A conscientização dos gastos energéticos dos aparelhos em usos; como: melhor utilização e o melhor horário para uso de cada aparelho e/ou função, acaba por gerar uma consciência dos gastos com essa energia e do quanto isso representa, economicamente.
É comum vermos hoje muitas pessoas que não se utilizam dessa tecnologia, por questões de custos operacionais e pagam razoavelmente caro, pela energia elétrica consumida. Cidades como o Rio de Janeiro podem se beneficiar com a utilização da energia solar. O nordeste seria outra referencia de abundancia da energia solar. O fogão solar também é uma outra fonte de aquecimento que pode ser mais bem explorada, principalmente por uma população de baixa renda.   

 Alimentaçao natural - sobrevida e suatentabilidade
                 


                A alimentação na permacultura acompanha a sabedoria milenar dos povos e civilizações extintas - mesmo aquelas massacradas em nome do progresso.
Sabedoria e culturas ancestrais, como a dos povos indígenas e da floresta; ainda são referencia quando o assunto em pauta é a alimentação e permacultura.
Com o estritamente necessário para sua sobrevivência e de sua tribo; conhecedor dos mistérios da Mata, os povos indígenas sempre respeitaram a forma harmônica com que convivem as diferentes formas e formatos de vidas existentes neste complexo nicho de adversidade.
Para Joseff Carlos Flores Gomes - mestre e cheff de cozinha, natural do Uruguai: - “sou radicado no Brasil. Trabalho aplicando ensinamentos de permacultura há muitos anos. Tenho visitado Centros de Permacultura em varias regiões desde que cheguei - tanto os que se encontram na região urbana como os da zona rural” afirma Gomes.
“Em Perinópolis (GO) realizei trabalhos interessantes relacionados a permacultura. Trabalhamos em equipe nas escolas com reciclagem. Foram tempos produtivos. A escola tem um papel fundamental na propagação da permacultura” defende o também palestrante, Joseff.
Segundo o cheff de cozinha internacional, “na permacultura a alimentação básica, passa por você comer na maioria, produtos que você mesmo produz” pondera o naturalista.    

Recuperar a relação com a natureza e comer o que seja mais natural

E o professor de culinária internacional, Joseff Carlos Flores Gomes segue afirmando: “Mas quando temos a intenção de recuperar a relação com a natureza e comer o que seja mais natural; começamos a dar preferência por produtos cultivados no local, pela região” adverte o gourmet de plantão.
Para Joseff, “um exemplo a ser seguido são as ações desencadeadas pelos inúmeros Centros de Permaculturas existentes que plantam o que consomem e comercializam seus excedentes - alimentos que favorecem uma refeição mais natural possível” comenta o uruguaiano, naturalizado brasileiro.
Para ele, “numa ótica vegetariana não se consomem animais de espécie alguma. Nem peixe, nem vaca, nem galinha e nem porco. Nada. Nenhum tipo de carne. Vegetarianos não consomem carne.
Existe neste vasto universo, um raciocínio que passa pela questão orgânica. A criação de vaca sem uso de ração e de nenhuma química que favoreça a engorda - uma vaca literalmente, orgânica”exemplifica Gomes.

Reciclagem - base para a permacultura urbana

Um dos fundamentos da permacultura urbana está na possibilidade de iniciar um trabalho, a partir da reciclagem. Na cidade os espaços são reduzidos e é preciso saber como melhor utilizá-los. As paredes, jardins e árvores - são espaços interessantes que podem ser melhor utilizados. Estantes, caixas, garrafas descartáveis e até mesmo pares de tênis usados servem para desenvolver um trabalho de permacultura urbana; onde as crianças representam o esteio deste propósito. As noções básicas de permacultura devem acompanhar o indivíduo por toda a sua existência e a escola exerce papel fundamental, nesse sentido. É preciso conectar crianças a natureza e ao ciclo da planta. Fazer com que ela tenha o contato com a terra. 
Também a cultura associada a nossa alimentação é importante. Hábitos saudáveis devem ser mantidos. Hortas comunitárias e mesmo; as existentes em escolas faz que crianças saibam como se planta e como se colhe: uma alface, uma cenoura, uma couve, outras. Esse acompanhamento; até mesmo como disciplina escolar, permite que estudantes tenham a noção de onde provem os alimentos. Desde a sua germinação á colheita. Com a introdução a permacultura é possível ter contato com: o composto, as águas, fotossíntese e tudo que está a nossa volta.
Na permacultura urbana pode-se gerar uma agricultura auto-sustentável; ou seja, produzir o que se consome - tudo em pequenos espaços e em pequenas escalas de produção.

Primeiros passos para quem quer vivenciar a permacultura
               
Para quem queira iniciar seu aprendizado em permacultura, recomenda-se que sempre planeje os espaços, antes de serem ocupados (designer).
 Dentro da parmacultura, o ensinamento parte do princípio de que qualquer alteração no ambiente respeite os ciclos já estabelecidos e que edificações ou mesmo outras intervenções devam ser norteadas a partir de mandalas ou, do conhecido aspiral. Essa é uma pecularidade da permacultura - o aspiral é a certeza da presença da permacultura; uma espécie de assinatura. Tudo é circular, na forma de aspiral e/ou mandala.
Na permacultura o centro do aspiral simboliza a presença do sol .
A permacultura é toda ela voltada para que as ações ocorram em círculos, aspirais, mandalas. A maior parte dos desenhos (designer) desenvolvidos na permacultura tem a forma circular. Tudo estabelecido a partir dos ciclos que nos acompanham como: o lunar, o solar, o aquático, o de civilizações, o menstrual e tantos outros, não mensurados.
O ciclo tem que se fechar em perfeita harmonia o que não acontece nos grandes centros urbanos; onde o esgoto sanitário contamina os rios e também o mar, matando peixes e diversas vidas desse complexo eco-sistema. 

Bio-construçao: as digitais de um trabalho em equipe
A bio-construçao acontece a partir de troncos de árvores tombados na Mata Atlântica, cipós para amarras , palha, terra, água e a gravidade

No Sítio Tevas a bio-construçao vem sendo aplicada para atender a demandas de sua infra-estrutura, como: alojamentos, almoxarifados, cozinha comunitária, banheiro seco, quiosques - uma alternativa ao desenvolvimento sustentável da terra; do local. As intervenções ocorridas no Sítio Tevas são preferencialmente de menor impacto e de baixo custo.
A bio-construçao pode ser inserida sob vários aspectos: desenho de comunidade (designer), do emprego dos diversos materiais utilizados nos propósitos que se almeja; até mesmo a introdução em locais urbanos que já tem um perfil padrão de construção e que possa estar sendo inserido como uma alternativa sustentável ao desenvolvimento urbano, também.
A bio-construçao se dá a partir do orgânico. Gera a partir dos resíduos orgânicos, buscando o máximo de qualidade de vida. Uma casa orgânica é uma casa viva, com menor agressão ao meio-ambiente; tendo o planejamento para a sua saúde e a sua alimentação - uma parcela de um sistema holístico.   
A bio-construçao é uma maneira racional de lidarmos com nossas necessidades de abrigo e não deixa de ser importante, para todos nós. 
A bio-construçao é uma forma mais natural de se construir. Na bio-construçao utilizam-se de materiais existentes no local e muitas vezes, de material reciclado. O barro, o bambu, a madeira, a terra e a palha são essenciais para a utilização de uma das ações praticadas na permacultura - a bio-construçao.
                Para a aplicação da bio-construçao é necessário observar bem o terreno que se vai construir. É preciso que se tenha, farta terra e/ou barrancos que possam fornecer quantidade suficiente para o seu propósito de construção. A terra estando próximo d`onde se quer construir; diminui significativamente os custos com a edificação; pois não mais haverá custos com o frete.
                Na forma original de executar projetos, a amarração deve ser feita por sipó. Linhas sintéticas, arames, cordas - não são recomendados, mas podem ser utilizados.
                A bio-construçao está associada a um trabalho de conscientização sobre o êxito rural e questões ligadas á ecologia. É indicada para ser aplicada em Parques Ecológicos.
              Hoje ecologistas e pessoas com bom senso e de posse, já erguem suas propriedades utilizando-se de técnicas associas a bio-construçao.

O passado frente ao presente.

Técnicas desenvolvidas em tempos remotos, reveladas por sucessivas gerações, mescla-se ao conhecimento contemporâneo. O resultado é maior solidez nas edificações e a garantia da segurança; presentes na vida de quem sempre investiu em sustentabilidade.

DICAS:
·         Lugares remotos, como o deserto no México, utilizam-se de cactos fermentados para dar maior liga as paredes edificadas para projetos da bio-construçao.
·         Lugares com umidade excessiva, deve-se ter o cuidado com a espessura das paredes a serem erguidas.
·         O óleo de linhaça, na ausência do cactus poderá ser utilizado, visando a impermabilidade das paredaes a serem erguidas.

Em suas considerações finais, Tamer Faddida deixa claro que gostaria que o mundo fosse melhor.

“Sabendo que fazemos parte desse todo, reconheço que a nossa iniciativa seja realmente importante.  Como é importante também; estarmos envolvidos com a manutenção de um movimento sustentável, verde. Colocando verde em nossas vidas, integramos a natureza - tudo se torna melhor, mais agradável, sustentável. O planeta se encontra num estado de cura e a própria natureza já vem curando o homem a bastante tempo - o que nos prova que ainda é possível; que ainda há tempo de sermos melhores, de sermos nós mesmos e pelos demais”conclui sabiamente nosso guru da permacultura.

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